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Política: o uso da internet como palco eleitoral

A internet como palco eleitoral

A internet está revolucionando a maneira como muitas coisas eram feitas há décadas – e já estamos cansados de ver exemplos disso, não é verdade? Nós fizemos uma intensa pesquisa e descobrimos coisas interessantíssimas em que a internet mudou de maneira extrema o comportamento habitual. Então preparem os seus corações porque nas próximas linhas nós vamos falar dos… INTERROMPEMOS A NOSSA PROGRAMAÇÃO PARA A EXIBIÇÃO DO HORÁRIO ELEITORAL OBRIGATÓRIO…

Tão chato quando isso acontece, né? No meio do nosso programa ou telejornal predileto, bem na hora do merecido descanso após um dia intenso de trabalho, a programação é interrompida. E é sobre isso que vamos falar hoje. Ou quase isso.

Na verdade também não é nada que exija “preparar o coração”. Não, não é pra tanto. Ainda assim, uma coisa no parágrafo inicial aí de cima merece nossa atenção. Duas palavras, pra sermos mais exatos: “interrompemos” e “obrigatório”. Tensas, né? Pois bem… essa é a realidade da propaganda eleitoral televisionada e radiodifundida hoje no Brasil.

“Obrigatória” ela já deixou de ser. Para o público, pelo menos. Neste horário, o SBT está exibindo Chapolin Colorado pela internet (olha a internet como alternativa aí, gente), tem opções na TV por assinatura, além dos vídeos sob demanda. De acordo com a coluna “Outro Canal”, assinada pela jornalista Keila Jimenez, na Folha de S. Paulo, a audiência do horário eleitoral caiu 32% neste ano com relação ao pleito de 2010. Só em São Paulo, 28% dos televisores ligados fugiram da propaganda eleitoral só no primeiro dia de exibição.

Mas este texto não é necessariamente sobre a mudança de comportamento do público quanto à propaganda política na TV. E sim sobre como a internet ajudou a mudar o jeito como as coisas são feitas. É que, se as pessoas não estão mais tão ansiosas por ver seu candidato favorito entre jingles grudentos e hipérboles sem fim, a atenção dos marqueteiros tem se dirigido para a rede.

E neste campo muita coisa interessante acontece. Disponibilizando mais informações que a TV – e mais formas de checar a veracidade de cada uma delas – a rede mundial de computadores proporciona um novo olhar para a política e leva o público a ter acesso a mais dados e debates que antes ficavam restritos à audiência das mídias tradicionais.

Exemplo gringo: Barack Obama

Antes de citarmos exemplos locais, vamos lembrar a campanha que levou ao primeiro mandato o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Com um forte investimento no Twitter, Obama conseguiu estimular a ida dos norte-americanos às cabines de votação em um país onde ela não é obrigatória. De acordo com um texto no site da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, “[Obama tem uma] capacidade de inspirar o entusiasmo de jovens eleitores e o uso sofisticado da internet como ferramenta de campanha”.

Esses elementos o tornaram o presidente mais votado da história dos EUA, segundo o portal UOL, e o segundo mais votado do mundo, de acordo com reportagem da revista Veja. Ao todo, foram 64,9 milhões de votos nas eleições de 2008.

Política e risos: Dilma Bolada

No Brasil, a personagem Dilma Bolada¹ é muito mais que uma sátira respeitosa à presidente da República. Além do sucesso que confere a ela quase 1,5 milhão de fãs no Facebook e mais de 250 mil seguidores no Twitter², a personagem já chegou a ser desejada pelo próprio partido rival, o PSDB. De acordo com o criador de Dilma Bolada, Jeferson Monteiro, um dos membros da equipe de publicidade dos tucanos teria entrado em contato ele para comprar a personagem. Monteiro afirmou que permitiu o desenrolar da conversa para ver “até onde ia” a negociação.

Recentemente, ele resolveu tirar a Dilma Bolada do ar, com receio de que tivesse problemas com a Justiça Eleitoral por causa da influência que a personagem poderia ter junto ao público. Isso não levou muito tempo. Dias depois, a versão mais Bolada da presidenta já estava de volta no Facebook e no Twitter, dando sequência às piadas e tiradas envolvendo a corrida eleitoral e os mais variados assuntos.

Para partidos pequenos, a internet é uma boa saída

Alguns partidos envolvidos na corrida eleitoral não têm uma estrutura muito forte de conteúdo na internet. Mas outros estão munidos de vídeos, artes conceituais e ação nas redes sociais, principalmente para driblar o pouco tempo que têm nas mídias tradicionais e o baixo orçamento disponível para a campanha.

Para isso, estruturam um bom ambiente na rede. O Pastor Everaldo, por exemplo, candidato do PSC, possui um blog pessoal e um conteúdo bem diversificado no Facebook, que estimula a participação dos seguidores e linka os programas exibidos na TV. Apoiadores como o pastor Silas Malafaia e o candidato Marco Feliciano, bem atuantes no Twitter, usam as redes para conseguir apoiadores, somando mais de um milhão de seguidores.

O PSOL, de Luciana Genro, também tem uma página no Facebook, em que anuncia a agenda da candidata e convida os fãs a participarem da construção dos projetos de governo, além de estimular discussões e noticiar ações do partido nas candidaturas estaduais. Candidatos como Jean Willys, que tenta a reeleição como Deputado Federal pelo Rio de Janeiro, são bem populares no Twitter, por exemplo, e usam as redes para conseguir uma expressividade maior de votos.

O PV também tem uma página organizada e com um conteúdo planejado no Facebook. Dos três partidos, este é o que tem mais fãs: quase 60 mil. Neste espaço, o partido exibe as propostas, convida para eventos e mantém debate com as pessoas que curtem a página.

Política é coisa séria: Truco!

A Agência Pública de Reportagem e Jornalismo Investigativo lançou neste ano o Truco!³. Neste projeto, a proposta é que os jornalistas envolvidos acompanhem os programas dos candidatos à presidência exibidos na TV – sim, aqueles mesmos que interrompem nossa programação – e os analisem, classificando as afirmações apresentadas como “não é bem assim”, quando são exageradas; “blefe”, quando são mentirosas; “tá certo, mas peraí”, quando necessitam de contextualização; “zap!”, quando são corretas; “truco”, quando tudo é fantasioso e grandioso demais; e “que medo”, quando exigem alerta, pois podem sinalizar propostas prejudiciais à sociedade. Tudo isso estará em um site criado para dar vida ao projeto.

A equipe já está na cola dos assessores das campanhas buscando dados que esclareçam todas as informações, pedindo comprovações das afirmações realizadas sempre que necessário. Links levam a notícias divulgadas na mídia que reforçam, contradizem e contextualizam o que está sendo dito nas campanhas.

Em certa altura, o projeto promete compilar todas as promessas já feitas para que os eleitores possam acompanhar e analisar quais atendem à sua visão de sociedade, e se elas estão dentro do que é possível ser feito e da realidade do país. Vale a pena conferir!

¹ Dilma Bolada

² Twitter

³ Truco!

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