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Por que a Microsoft pode modificar nossa relação com a tecnologia

Por que a Microsoft pode modificar nossa relação com a tecnologia

As perspectivas de “De Volta Para o Futuro 2”, lançado em 1987, sobre o então distante ano de 2015 se multiplicam por diversos blogs, sites, colunas, tweets, comentários e textos opinativos. Nada mais natural que o exercício de voltar ao passado e se perguntar quais das projeções feitas na época se concretizaram, quais não se concretizaram e quais se adaptaram com o passar dos anos.

Os textos sobre o filme normalmente citam como um dos ápices tecnológicos previstos e não alcançados o tênis que se amarra sozinho e o hoverboard, skate voador utilizado por Marty McFly para fugir dos bullies descendentes de Biff Tannen. O tênis até foi “criado” pela Nike, mas o preço citado vai muito além do inacessível; e o hoverboard“existe” em forma de protótipos, mas só flutua sobre superfícies metálicas utilizando a tecnologia maglev, aquela dos trens bala asiáticos.

Esses desenvolvimentos tecnológicos vêm para agradar fãs e lucrar com uma onda de nostalgia bem comum atualmente, mas às vezes um produto surge e, embora pareça coisa de ficção, chega a interferir diretamente no comportamento da sociedade. Foi assim com a internet, que modificou e atualizou o que se pensava sobre globalização antigamente; foi assim com o salto dos smartphones feito pela Apple com o iPhone, que não era mais uma ferramenta corporativa, mas um jeito de carregar a internet no bolso; foi assim com o Napster, que surgiu como uma maneira ilegal de compartilhamento de MP3 e acabou modificando toda uma indústria.

É essa a impressão geral sobre o novo computador da Microsoft, o HoloLens, divulgado em um evento da marca recentemente. A apresentação tinha como intuito mostrar a nova versão do sistema operacional Windows para computadores, celulares e tablets e lançar o esperado navegador substituto do tão odiado Internet Explorer. Mas quando a empresa anunciou o HoloLens, blogueiros e colunistas de tecnologia do mundo todo foram à loucura nas coberturas ao vivo e no Twitter.

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Olhando assim, parece um concorrente do Google Glass ou do Oculus Rift. Esses dois dispositivos, porém, nem sequer se encaixam na mesma categoria do HoloLens. Enquanto os “óculos inteligentes” do Google servem como um “extensor” da experiência de um smartphone, realizando tarefas simples, conectando a internet, gravando vídeos, fotografando etc. e o Oculus Rift é um dispositivo de realidade virtual, que funciona em conjunto com um computador ou videogame. O HoloLens é um computador pessoal completo.

Um potente computador pessoal, diga-se de passagem. Tem três processadores internos, um dedicado só para a parte gráfica e um novo, criado especialmente para ele, que processa exclusivamente os efeitos “holográficos” do dispositivo. Foram sete anos de desenvolvimento nos laboratórios da empresa.

Primeiramente foi revelado que o Kinect, aquela câmera do Xbox para movimentos, foi uma espécie de cobaia para estudar a maneira com que as pessoas se adaptariam a controlar o sistema usando exclusivamente movimentos. O próprio Kinect evoluiu para um dispositivo dedicado a jogos e o HoloLens surge agora como uma revolução na maneira das pessoas se relacionarem com a tecnologia. O líder da equipe de criação é Alex Kipman, um brasileiro nascido em Curitiba que sempre fez esse questionamento de por que as pessoas precisam se adaptar às tecnologias e não o contrário.

O vídeo de apresentação já impressiona. Certas funções prontas como a do Skype e a dos games surpreendem pela funcionalidade e facilidade de adaptação. Mas entre as funções que mais chamaram a atenção da mídia especializada estão a possibilidade de fazer uma projeção de outro lugar, como é o caso da projeção de Marte, onde é possível “caminhar” pelo planeta vermelho e perceber a interação do usuário com o cenário virtual. Na revista americana Wired, a jornalista Jessi Hempel descreveu a sensação:

“Dou um passo, minhas pernas começam a tremer. Elas não confiam no que meus olhos estão vendo. Atrás de mim, o Rover tem dois metros de altura, seu braço metálico se estende como um tentáculo. O sol brilha sobre o Rover, criando curtas sombras negras no chão sob seus pés.”

Talvez as cenas holográficas vistas em filmes como Homem de Ferro 2 ainda não sejam possíveis, mas o que se percebe dos relatos é que a tecnologia que vai permitir esse tipo de interação agora já existe e tudo depende do que será desenvolvido a partir disso. A Microsoft, no evento, já adiantou que desenvolvedores poderão ter acesso ao funcionamento e ao software do dispositivo e terão liberdade total para criar.

Esta abertura de portas torna as possibilidades infinitas em inúmeras aplicações. Seja isso no entretenimento, no ambiente de trabalho, nas aplicações científicas, na maneira de se comunicar e de se conectar com as outras pessoas. Alex Kipman, em quase todas as suas entrevistas, gosta de lembrar uma das grandes frases de Alan Key, cientista computacional, programador e um dos pais do conceito de programação orientada a objetos: “O melhor meio de prever o futuro é criando-o”.

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