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Multitelas: experiências de conteúdo e extensões dos conhecimentos

Multitelas: experiências de conteúdo e extensões dos conhecimentos

Se você está lendo esse texto em um computador, acessando seu facebook pelo tablet ou enviando e-mail por um smartphone, precisa saber que você é um ciborgue. Isso mesmo. Não no sentido Robocop, mas sim de acordo com as características da teoria levantada por Amber Case. Segundo a pesquisadora, você torna-se um ciborgue toda vez que olha para a tela de um computador ou usa um celular, porque está entrando numa relação tecno-social com um pedaço de tecnologia não-humana.

Case é uma “antropóloga ciborgue”. Ela estuda a interação entre humanos e não-humanos, incluindo o fluxo da informação e o uso de computadores e telefones. Já apresentamos em outro post aqui no blog sua palestra no TED. Ela exemplifica o quanto somos dependentes de dispositivos tecnológicos externos: “Como é o interior do seu computador? Bem, se você o imprimisse ele se tornaria uma tonelada de material que carrega por aí o tempo todo. E se você perder essas informações, de repente sofreria algo como uma perda da sua mente, você sentiria como se algo estivesse faltando de repente”.

Pensando dessa forma, antes mesmo da concretização dos óculos do Google, não é difícil encontrar exemplos atuais de atitudes ciborgue em nosso dia a dia. Isso nos leva a um cenário em que consumimos informações por meio de diferentes dispositivos simultaneamente. Com isso, cresce cada vez mais a tendência das multitelas (multiscreen). São experiências de conteúdo em diferentes ambientes digitais, que atuam de forma paralela e/ou complementar. Para promover isso com eficiência, é preciso pensar em como projetar e combinar os diferentes contextos envolvidos, formulando um ecossistema múltiplo.

Categorias multitelas

Michal Levin, um designer de User Experience (UX) do Google, descreve esses ecossistemas múltiplos em três categorias principais. A primeira é a experiência consistente, onde a aplicação e a experiência são semelhantes em todas as telas. A segunda categoria é a experiência complementar, onde as diferentes plataformas trabalham em conjunto e se comunicam entre elas para criar uma experiência única. Um exemplo disso é Padracer, um jogo de corrida onde o iPhone do usuário serve como o volante e a tela de iPad como a pista.

A terceira categoria de ecossistemas multitelas é a experiência contínua, que é, possivelmente, a categoria mais importante para um projeto desse tipo. Para uma experiência contínua em vários dispositivos, é preciso avaliar quando e onde um produto será utilizado. Essa análise leva em conta os diferentes momentos de utilização de cada dispositivo e de que forma eles irão se complementar. Allrecipes é um exemplo de um ecossistema contínuo, em que o usuário pode procurar receitas on-line utilizando um computador desktop e adicionar os ingredientes para criar uma lista de compras. Essa lista estará acessível em um aplicativo para smartphone, o dispositivo mais provável de ser utilizado enquanto as compras são realizadas. O aplicativo também permite digitalizar produtos utilizando a câmera e, a partir disso, receber ideias de receitas adicionais. Quando é hora de colocar a mão na massa, um iPad pode ser trazido para a cozinha, apresentando uma interface com fontes e botões grandes para que o usuário possa tocar o tablet com mais facilidade durante o processo culinário.

Compreender como as pessoas utilizam os produtos ajuda a projetar caminhos e experiências para cada plataforma na concepção das multitelas. Por exemplo, um site ágil para uma grande cidade diz aos visitantes o que fazer, mostra mapas de transporte público e fornece listas de serviços municipais. Para se adaptar às necessidades e possibilidades de uma plataforma móvel, este mesmo site deve oferecer caminhos diferentes de acordo com o contexto para acomodar os usuários em movimento, fornecendo a localização de informações específicas, tais como rotas de ônibus. Confira a seguir, alguns pressupostos básicos para cada tipo de dispositivo.

Smartphones

A ideia de que usuários de smartphones estão geralmente fora de casa, utilizando o dispositivo como um substituto para o computador pessoal, é um equívoco. Os smartphones já se configuram como uma plataforma própria.  Esse aparelho está ao alcance do usuário ao longo de todo o dia e ele o utiliza principalmente para microtarefas: buscas rápidas de informação, jogos, compartilhamentos etc. Captando bem essas especificidades, o Evernote é um ecossistema múltiplo que permite fazer anotações, criar listas de afazeres e salvar URLs. As funcionalidades adaptam-se conforme o dispositivo. Em sua versão móvel, Evernote fornece acesso rápido para as notas de texto, captura de foto, e ditado de voz.

Tablets

Porque a tela de um tablet é maior do que a de um smartphone, ele é ideal para leitura e visualização de mídia, e quanto maior for o tamanho do teclado virtual, mais conveniente ele se torna para escrever e-mails e tomar notas. Pensando nessa alta funcionalidade de leitura, o aplicativo Pocket oferece a opção de salvar conteúdos em uma lista, enquanto você navega em smartphone, para realizar a leitura mais tarde, em uma plataforma de melhor visualização, tal como o tablet.

Desktops ou laptops

 As pessoas usam os computadores pessoais para duas funções completamente diferentes: para o trabalho e para lazer. Eles são encontrados em quase todas as casas e escritórios, por isso é essencial considerá-los na concepção de um projeto multitela. Ao criar ecossistemas múltiplos, é possível utilizar dispositivos adicionais para servirem como telas auxiliares. Por exemplo, com Adobe Nav e uma conexão de rede entre um iPad e um computador, os usuários podem mover a barra de ferramentas do Photoshop para o tablet e personalizá-lo para acessar mais facilmente, esvaziando a interface principal, criando um ambiente ainda mais eficiente.

Smart TVs

Smart TV é um termo geral para uma nova geração de experiências de visualização de televisão onde a TV tem conectividade com a internet e pode executar aplicativos (por exemplo, o Netflix) e utilitários de processamento de vídeo. Com dispositivos como Google TV ou Apple TV usando AirPlay, TVs inteligentes podem se integrar com outros dispositivos. Um tablet pode ser utilizado como um guia de programa e como uma forma de ler mais sobre o que está sendo assistido. Um bom exemplo disso é o Sting 25, um app que celebra a vida e obra do músico Sting. Ele permite uma visão AirPlay dual screen de imagens de um concerto exclusivo em uma Smart TV, e a possibilidade de explorar o conteúdo adicional em um iPad.

Indicação de leitura:

Precious, um estúdio com sede em Hamburgo, apresentou uma publicação com categorias adicionais de ecossistemas múltiplos. É uma referência útil para o planejamento de soluções para produtos e serviços digitais em multitelas. Clique aqui para conferir.

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