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Colaboração e diálogo: notícias 2.0 reconfiguram o jornalismo

Colaboração e diálogo: notícias 2.0 reconfiguram o jornalismo

Essa geração de internautas 2.0 quer mesmo é participar. É a vontade de sentir-se incluído na conversa que move os dedos sob os teclados conectados a diferentes destinos no mundo inteiro. André Lemos, mestre em Política de Ciência e Tecnologia e doutor em Sociologia, fala de dois conceitos que classificam bem a mudança que a comunicação vem tendo nos últimos tempos. Para ele, a era “massiva” foi aquela em que não havia diálogo e nem troca de papéis entre emissor e receptor. As informações chegavam ao público de maneira direcionada e sem possibilidade de participação. O público se relacionava com as mídias no estilo “fala que eu te escuto” (e só te escuto) com uma ínfima possibilidade de interação por telefone. Já na era pós-massiva, a interatividade dá voz ativa ao público, que deixa de ser classificado como ‘receptor’ e passa ser chamado de ‘participante’ no processo informativo. “As mídias de massa são mídias de informação. As novas mídias de função pós-massiva são mídias de comunicação, de diálogo, de conversação”, ressalta o autor em seu artigo publicado no livro “Esfera pública, redes e jornalismo”.

Uma forma de perceber isso na prática é ver como o jornalismo tem sido afetado por esse novo jeito de informar. Imagine um mundo em que todo cidadão é um “jornalista” em potencial. Bem-vindo ao mundo do “jornalismo colaborativo”, também chamado de “jornalismo open source” (uma alusão aos softwares com códigos–fonte abertos). Ana Brambilla, jornalista e mestre em Comunicação, resume o que é e aponta uma questão crítica sobre essa nova forma de fazer jornalismo: “O jornalismo open source é uma tentativa polêmica de caracterizar a produção e publicação de notícias de modo colaborativo. Polêmica porque, ao dar o nome de “jornalismo” a uma prática aberta a qualquer pessoa, provoca alergias aos defensores mais fervorosos da legitimidade do profissional de imprensa”.

Como assim qualquer um pode ser jornalista? A princípio, esse pode ser o indignado questionamento levantado pelos profissionais da área. Mas a participação do público já é uma realidade em qualquer esfera comunicacional. São incontáveis as ferramentas que possibilitam aos cidadãos expressarem suas opiniões e mostrarem ao mundo notícias que eles consideram relevantes. Cada um é gatekeeper de sua própria plataforma. Se antes os veículos de massa determinavam a pauta do dia, hoje os critérios de noticiabilidade são definidos também pelas conversas que acontecem em comunidades na web, tais como as redes sociais. Veja abaixo o vídeo em que o jornal britânico The Guardian mostra a influência dos internautas no atual jornalismo.

Os jornalistas profissionais não precisam temer o jornalismo open source. “A meta é fortalecer as bases dialógicas de uma imprensa cuja função essencial é aperfeiçoar o potencial crítico do público”, ressalta Ana Brambilla. André Lemos ainda levanta um ponto importante, que é a possibilidade de adaptação dos dois modelos: “Não se trata de um modelo (pós-massivo) substituindo o outro (massivo), mas da convivência dos dois de forma às vezes tensa, às vezes complementar”. Essa tensão deve-se principalmente à credibilidade da informação. Em contrapartida a esse receio, podemos pensar que essa participação do público aumenta as possibilidades de apuração de uma notícia. Ao mesmo tempo, exige ainda mais qualificação do jornalista para oferecer um olhar diferenciado sobre a conversa já existente e, até mesmo, selecionar, entre tweets e likes, as informações corretas. O cidadão-repórter não elimina a necessidade de profissionais qualificados para pesquisar e oferecer conteúdo com credibilidade.

O vídeo a seguir é uma entrevista com Piers Jones, gerente de desenvolvimento de produtos digitais do The Guardian, onde ele explica o conceito de jornalismo aberto. Jones fala que, na prática cotidiana, essa participação do público pode vir por meio de aplicativos, ou até mesmo por uma simples pergunta nas redes sociais. Os comentários dos usuários ajudam os jornalistas.

No vídeo a seguir, Clay Shirky mostra como o as plataformas de comunicação social ajudam cidadãos em regimes repressivos a divulgar notícias reais e são utilizadas como uma forma de contornar a censura.

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